Gordinhas e o sexo

 Oi gente! 
Zapeando pela internet achei esse texto FODA da Vanessa Rodrigues, que dialoga com a questão do sexo! Muitas verdades li aqui hein! É importante refletirmos sobre essas questões, pois carregamos muitas palavras duras e pesadas, ditas pelas pessoas que a gente mais ama e que mesmo sendo mentira, acabam sendo nossas verdades quando crescemos e, motivo de muitos traumas e bloqueios que precisamos enfrentar. Espero que se identifiquem!
Beijocas!
Alessandra de Mattos - Equipe Preta&Gorda
 Texto de Vanessa Rodrigues.
Antes, eu tinha lido esse texto da Polly no Lugar de Mulher: “Como é ser gorda”. Um par de horas depois, estava num chat online com uma amiga quando começamos a falar das revistas femininas clássicas e de suas influências nefastas em nossas vidas. E, juntando as duas coisas, acabei me lembrando de um artigo que li num exemplar da revista Nova de minha mãe, há uns 30 anos.
Era alguma coisa sobre: “Gordinhas podem fazer sexo?” ou “Como gordinhas podem fazer sexo?”. Para ilustrar, havia a foto de uma modelo de rosto redondo, com uma expressão insegura, sem olhar direito para câmera. O texto recomendava transas à meia luz (ou com luz apagada), posições nas quais nossas dobrinhas ou gordurinhas não ficassem tão evidentes, jeitos de se desvencilhar da mão do bofe caso ele quisesse acariciar nosso abdômen, entre outras dicas.
Ou seja, o artigo era o próprio manifesto gordofóbico, cheio de condescendência e mau gosto. Reparem que o li criança e nunca me esqueci. Até porque, o grand finale era realmente uma pérola: uma espécie de receita de como transformar o lençol num “charmoso e sexy” sarongue, caso desse vontade de ir ao banheiro fazer xixi! Porque, obviamente, ao acender a luz para ir ao banheiro, era preciso esconder o corpo.
 
Ilustração: Zezé Olukemi
Li aquilo e, do alto dos meus 9, 10 anos de idade, eu só pensava que jamais iria trepar na vida, já que desajeitada como sou nunca que eu ia conseguir fazer de um lençol um sarongue! Quando muito, uma toga. E togas não são sexy. Na verdade, eu não conseguia nem visualizar a operação. Como não consigo até hoje.
Para a revista, uma mulher gorda precisava ser não apenas uma ginasta na cama, com aquelas posições mirabolantes que passam longe do kama sutra, mas também uma estilista-malabarista-meio-origamer. Tipo aquelas pessoas que fazem bichinhos de balões nas festinhas de aniversário. E, ainda precisa prender o xixi e ficar sem respirar (que é pro boy não acordar antes de finalizar a manobra), porque, né? Por mais ágil que uma pessoa seja, leva um tempo até o sarongue ficar pronto! Até lá, haja autocontrole na bexiga.
 
Quanta neura opressiva essas revistas nos incutiam, não é mesmo? Aliás, ainda incutem, com suas capas em busca da barriga negativa e da última novidade milagrosa emagrecedora. O mais triste é pensar que, talvez, o estilo até tenha mudado, mas a gordofobia continua igual. Não me surpreenderia nada em esbarrar com um artigo desse quilate numa revista qualquer hoje em dia. Mesmo com o termo“plus size” virando moda e, como toda moda, excluindo alguns e ditando como os corpos devem ser.
Quanto a mim, vieram os anos e, embora eu não tenha passado incólume pelas manifestações gordófobicas e pressões que sofri (e ainda sofro) ao longo da vida, aprendi que a delícia do sexo é desfrutar e ser desfrutada (e isso requer bem menos complicação e muito mais prazer do que possamos imaginar). E que na transa a única coisa que me apetece fazer com um lençol é brincar de cabaninha.



Autora
Vanessa Rodrigues é jornalista, co-fundadora da Casa de Lua e gostosa. Atualmente escreve no Brasil Post e pode ser encontrada também no Facebook e Twitter.
Esse texto foi originalmente publicado em sua página do Facebook no dia 15/08/2014.

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