Racismo: velho tabu volta a pairar sobre a indústria da moda
Nova York - Em 1973 foi apresentado no palácio de Versalhes o primeiro desfile
com ampla presença de modelos negra e, já nos 80 e 90, Imán Abdulmajid e
Naomi Campbell eram as manequins mais bem pagas: por que, então, não se
completou a normalização e se continua falando em pleno século 21 de racismo nas passarelas?
Há alguns dias, Naomi Campbell, apelidada como a Deusa de Ébano, fechou o desfile de Diane Von Furstenberg na Semana da Moda de Nova York e deixou a concorrência difícil para as demais modelos.
Além de sua amizade com o estilista belga, Campbell representou o apelo
que Von Fustenberg, como presidente do Conselho de Estilistas de Moda
dos Estados Unidos, tinha feito pela diversidade na seleção de modelos
há cinco anos e que, nos dias de hoje, continua sem efeito.
Apoiada em números da edição anterior da semana de moda nova-iorquina
(na qual apenas 6% das modelos foram negras, contra 82,7% de brancas)
dias depois, Naomi Campbell, junto com sua predecessora no mundo das top
models negras, Imán, e a diretora de uma agência de modelos, Bethann
Hardison, publicaram uma carta aberta falando do 'ato racista' na moda.
Nesta denunciaram estilistas como Calvin Klein, Donna Karan e Armani,
que usam apenas uma, ou até nenhuma modelo negra em seus desfiles e
acusaram o mundo da moda de ter se acomodado em sua luta contra a
igualdade.
'Retrocedemos', disse Imán em uma entrevista à rede de televisão 'ABC'.
Olhando um pouco para trás na História, em novembro de 1973, no mesmo
palco onde Maria Antonieta passou os últimos dias antes de ser
decapitada, o mundo da moda quis fazer uma autêntica revolução. Um
encontro em Versalhes entre estilistas franceses, como Yves Saint
Laurent e Hubert de Givenchy, e americanos, como Oscar de la Renta, Anne
Klein e Bill Blass, que destruísse as barreiras e criasse sinergias.
Enquanto as casas de Paris apostaram na sofisticação, a grande
contribuição da moda americana a uma indústria e uma arte acusadas de
'eurocentrismo' foi demonstrar com uma alta presença de modelos negras
que estas poderiam ter um papel, além da cota de exotismo graças a
rostos como o de Sandi Bass.
Os efeitos foram quase imediatos: em 1976 foi descoberta a primeira
supermodelo negra e a mais famosa de todas, a britânica Naomi Campbell,
que no auge das supermodelos formou o 'quarteto de ouro' junto com
Claudia Schiffer, Cindy Crawford e Linda Evangelista.
Waris Dirie, Tyra Banks, Vanessa Williams e Veronica Webb solidificavam
o que parecia ser o caminho para a 'normalização' das modelos
afrodescendentes. Mas quando passou o 'boom' das mesmas, começou também o
retrocesso na igualdade das modelos negras nas passarelas.
Em julho de 2008, a revista 'Vogue' publicou um artigo intitulado 'É a
moda racista?', fazendo o primeiro apelo para a problemática. Passados
cinco anos, o jornal 'The New York Times', no dia 7 de agosto do ano
passado, publicou um artigo intitulado 'O ponto cego da moda'.
Os motivos? Estilistas e agências de modelos passam a batata quente e
não tem quem fale sobre o problema de representatividade da raça negra
nas elites que atinge o campo da moda (e, por ali, o conceito 'modelo'
tem que ser representativo disso) ou a desculpa que o branco é uma opção
estética, por isso pedir o contrário seria um atentado contra a
liberdade criativa.
No entanto, o auge das modelos asiáticas, vinculado diretamente com a
importância dos consumidores da Ásia no mercado da moda, parece não
responder a esses mesmos argumentos, da mesma forma que os estilistas
tão conhecidos como Jean-Paul Gaultier e Tom Ford apostaram pela
diversidade e triunfaram.
Em declarações ao 'The New York Times', o brasileiro Francisco Costa,
diretor criativo da Calvin Klein, assegurou que há poucas modelos negras
cotadas, como Malaika Fith (o primeiro rosto negro em uma publicidade
da Prada), e que respeitar a cota implicaria contar sempre com as
mesmas.
Já Riccardo Tisci, estilista da Givenchy preferiu não falar de racismo e
sim de um sentimento muito menos meditado: pura preguiça. 'É mais fácil
que sejam brancas porque é ao que estamos acostumados', disse. EFE
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