Estudo demonstra que negros não constituem nem 20% dos autores da literatura brasileira
Mesma tendência segue o cinema nacional. Produção negra, com autores e personagens negros, tem pouco crescimento ao longo de décadas.
Nos anos
60/70 houve um grande fluxo de importantes autores negros, que publicavam os
mais variados textos, inclusive, romances e documentos políticos para a
organização do povo negro em torno de suas reivindicações.
Visando
quantificar a questão, em período recente, a pesquisadora Regina Dalcastagnè
acaba de lançar um livro pela Editora da Universidade Estadual do Rio de
Janeiro (Uerj) que visa abordar o problema da participação do negro na
literatura brasileira, nos últimos 10 anos.
Em 2004,
Regina, que é professora da Universidade de Brasília (UnB) e coordenadora do
Grupo de Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, deu início a um
mapeamento quantitativo dos personagens e autores na produção literária
nacional.
Naquele
tempo, os números confirmavam uma suspeita: havia poucos negros e pobres na
literatura brasileira. O grupo de pesquisa leu 258 romances escritos por 165
autores entre 1990 e 2004. E com o auxílio de fichas, a equipe chegou à
conclusão de que 78,8% dos escritores brasileiros são brancos, e 72,7%, homens.
As
narrativas por eles apresentadas repetem quase que como um espelho a autoria
dos textos. Naquele estudo, em 71,1% dos romances pesquisados, os protagonistas
são homens e, em 56,6%, representam a classe média.
Neste
momento, a pesquisadora se prepara visando à terceira e última etapa do
trabalho. Dessa vez, serão analisados os romances publicados entre 2005 e 2014.
A lista de 300 livros está pronta e os colaboradores já deram início às
leituras. Será uma análise detalhada da geração 2000, na qual Regina já observa
algumas particularidades.
Ela acha
que “que o número de mulheres vai aumentar, mas não será tão significativo
quanto as pessoas estão pensando. Tenho a expectativa de que tenha aumentado um
pouco em relação aos 27,3%, mas não muito”, avalia.
Contudo,
com relação à participação dos negros, a pesquisadora acredita que não deve
haver um progresso significativo. “Tenho esperança de que vem aumentando, só
que mais lentamente que a situação das mulheres. É um longo processo”.
O
negro no cinema
Outra
pesquisadora, Paula Lins, tomou o mesmo parâmetro de pesquisa, mas o fez em
cima da produção do cinema nacional, no período de 1996 até 2006. E os
resultados foram praticamente os mesmos.
Lins
analisou 211 filmes nacionais e 841 personagens criados por 139 diretores.
Desses, 82% eram homens e apenas 18%, mulheres. Nos papéis centrais diante das
telas, no quesito origem social e raça, refletem o panorama literário com 82,3%
dos personagens brancos e 70% de classe média.
A
exclusão do negro da produção cultural é um reflexo da realidade objetiva de
racismo na qual o povo negro vive.
Sem as
condições de nem mesmo cursar o ensino superior, os negros certamente terão
maiores obstáculos para produzir cultura, especialmente por ser uma área do
conhecimento que demanda tempo e recursos para sua realização.
Da mesma
forma, as grandes empresas do ramo, tanto as editoras e os estúdios de cinema,
não fazem a menor questão de colocar um negro como personagem central de um
filme, ou subsidiar a produção de um autor negro, muito pelo contrário, como
nos informam as pesquisas.
A balança
só tende a mudar com a organização e luta do povo negro, de maneira
independente da burguesia. E esse é o fato que explica o boom de escritores
negros nos anos 1970, quando diversas organizações e coletivos de negros
estavam na ofensiva, lutando por seus direitos.
Fonte: http://www.pco.org.br/negros/estudo-demonstra-que-negros-nao-constituem-nem-20-dos-autores-da-literatura-brasileira-mesma-tendencia-segue-o-cinema-nacional/aooa,y.html
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