Recessão aumentou abismo econômico entre brancos e negros nos EUA
DO NEW
YORK TIMES
WASHINGTON
- Milhões de americanos perderam riqueza desde a crise de 2008. Mas a situação
ficou pior para famílias de negros e hispânicos, ampliando o abismo entre os
brancos e as minorias, de acordo com um novo estudo do Urban Institute.
— Já
estava ruim — disse Darrick Hamilton, professor da New School, em Nova York,
sobre a diferença de riqueza entre as famílias negras e brancas. — Ficou ainda
pior.
A partir
de 2010, o ganho das famílias brancas, em média, era de cerca de US$ 2 para
cada US$ 1 das famílias de negros e hispânicos — relação que se manteve mais ou
menos constante nos últimos 30 anos. Mas, quando se trata de riqueza — em
ativos, como a poupança, casas e aposentadoria, e dívidas, como hipotecas e
saldos de cartão de crédito —, as famílias brancas já ultrapassaram de longe as
de negros e hispânicos.
Antes da
recessão, as famílias brancas eram, em média, cerca de quatro vezes mais ricas
que as famílias de não-brancos, de acordo com o estudo do Urban Institute,
feito com base nos dados do Federal Reserve, o banco central americano. Em
2010, os brancos eram cerca de seis vezes mais ricos.
Pelos
dados mais recentes, a família de brancos média tinha cerca de US$ 632 mil em
riqueza, contra US$ 98 mil para famílias de negros e US$ 110 mil para as de
hispânicos.
— A
diferença de riqueza racial está profundamente enraizada em nossa sociedade —
disse Caroline Ratcliffe, que está entre os autores do estudo. — Está aqui, não
vai embora, e nós precisamos nos preocupar com isso.
Muitos
especialistas consideram a disparidade de riqueza mais perniciosa do que a
diferença de renda, uma vez que perpetua de geração em geração e tem um efeito
poderoso sobre a segurança e mobilidade econômica.
Os jovens
negros são muito menos propensos do que os brancos a receber uma grande soma de
seus pais ou outros parentes para pagar a faculdade, iniciar um negócio ou
fazer um pagamento em uma casa, por exemplo. Isso, por sua vez, faz as suas
perspectivas de construção de riqueza mais frágeis à medida que avançam na
idade adulta.
Dois
fatores principais contribuíram para ampliar esta disparidade de riqueza nos
últimos anos. A primeira é que a crise imobiliária bateu mais pesado em
famílias negras e hispânicas do que em famílias brancas. Muitas famílias
hispânicas jovens, por exemplo, compraram casas quando a bolha imobiliária
estava inflando e atingindo seu auge, deixando-os sobrecarregados com pesadas
dívidas, ao mesmo tempo em que os preços das casas caiam em lugares como o
subúrbio de Phoenix e do interior da Califórnia.
Famílias
negras também foram mais atingidas porque o colapso do setor habitacional
constituiu uma proporção maior de sua riqueza do que as famílias brancas.
Maiores taxas de desemprego e rendimentos mais baixos entre os negros deixou-os
menos capazes de continuar a pagar as suas hipotecas e mais propensos a perder
suas casas, disseram especialistas.
Já os
fundos de aposentadoria de famílias negras também sofreram mais, segundo o
Urban Institute. O montante que as famílias negras pouparam encolheu 35% entre
2007 e 2010, enquanto as contas de famílias brancas ganharam 9%. Com salários
mais baixos e taxas de desemprego mais elevadas, as famílias negras ficaram
mais propensos a sacar os recursos quando o mercado estava deprimido.
— As
reservas para emergências são muito pequenas em ‘comunidades de cor’ — afirmou
Tom Shapiro, diretor do Instituto de Ativos e Política Social na Universidade
Brandeis.
Algo
semelhante pode estar acontecendo com a recuperação do setor de habitação.
— Algumas
pessoas falam em apropriação de terras — disse Hamilton, da New School, com uma
maioria de investidores brancos comprando casas retomadas por falta de
pagamento.
No total,
as famílias hispânicas perderam 44% de sua riqueza entre 2007 e 2010, estima o
Urban Institute, e as famílias negras perderam 31%. Famílias brancas, em
comparação, perderam 11% de sua riqueza.
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