Roque Júnior vê racismo com técnicos negros no Brasil

“Vejo o conhecimento como uma arma para vencer isso"

 
 
 
 
Aos 36 anos, Roque Júnior se prepara para começar na terceira carreira dentro do futebol. Depois de jogador e dirigente, o ex-zagueiro, campeão no Palmeiras e na seleção brasileira, agora quer ser técnico. No último domingo, embarcou para a Itália, onde fará um curso da Uefa para se habilitar para trabalhar na Europa.

“Eu tenho vontade de trabalhar lá fora, sonho. Me adaptei bem quando jogador. Se tiver oportunidade de começar lá, vou, mas se tiver aqui também”, planeja.

Além do que classifica como “ voltar a sentir a adrenalina” que o futebol lhe traz, a chance de competir e ser treinador no Brasil serviria para o ex-zagueiro quebrar o que vê como uma barreira: o racismo velado. Num esporte onde a população média de jogadores profissionais é miscigenada, são raros os exemplos de treinadores negros e pardos.

“Eu acho que é uma barreira a ser quebrada. Vejo que existe, sim, racismo, mas que é algo que não está isolado da sociedade. Qual o percentual de negros e pardos na população? Mais de 50%. E entre doutores? Li outro dia que não chega a 20%. No futebol é igual. Entre posições de comando, dirigentes, técnicos é raro”, afirma o futuro técnico.

“Vejo o conhecimento como uma arma para vencer isso. Você tem que se preparar, estar habilitado. Foi o exemplo que tive em casa, da minha família e que vou seguir. Minha mãe é professora, tenho uma tia doutora. O conhecimento ajuda a quebrar essas barreiras”, completa.

Quando ainda trabalhava como dirigente do seu clube, o Primeira Camisa, Roque Júnior fez um MBA em gestão e marketing esportivo. O projeto de uma equipe que trabalhava com categorias de base em São José dos Campos foi congelado no ano passado.

Quando teve certeza que queria ser técnico, Roque Júnior decidiu ver de perto como se trabalhava nos modelos que mais admira. Por isso, em outubro de 2012 arrumou as malas e passou quase dois meses na Europa. Porto, Bilbao e Dortmund foram os destinos.

“Queria entender o que caras como Bielsa (do Athletic Bilbao) e Klopp (do Borussia Dortmund) estavam fazendo. Fui ver treinos, o trabalho do dia a dia e jogos”, conta Roque Júnior.

Conhecido de um argentino que é auxiliar de Bielsa, ele conseguiu acompanhar duas semanas de trabalho do treinador, ex-comandante da seleção, tido por ninguém menos do que Pep Guardiola como um dos melhores do mundo.

“Não tive muito contato com ele. Nessas horas, eu entendo que você tem que preservar uma certa distância. O mais importante que vi é que o treino é a chave dos caras, a chave de tudo. O treino é fundamental. A interação dele no trabalho é muito importante, como orienta cada trabalho”, lembra.

Com Klopp, que levou o Borussia Dortmund para a final da Liga dos Campeões, houve mais interação. “Conhecia ele da minha época de jogador, conversamos. Mas o melhor foi ver os treinos e o resultado no jogo. Eram trabalhos muito intensos, com cobrança muito grande. Tinha treinos em que os jogadores precisavam trocar de mentalidade muito rapidamente, mudavam de atacar para defender de forma rápida”, diz.

Fonte: Midia News

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