Acusado de matar por racismo é inocentado

O ex-vigilante voluntário George Zimmerman, que matou o jovem negro desarmado Trayvon Martin, na Flórida, há um ano, foi declarado inocente nesta madrugada por um júri popular, após um polêmico julgamento marcado pelo debate sobre o racismo. "Senhor Zimmerman, eu assino a decisão que confirma o veredicto do júri", declarou a juíza Debra Nelson, do Tribunal do condado de Seminole, em Sanford, no centro da Flórida. "Sua fiança será liberada, seu monitor GPS será desligado quando deixar a Corte e você não tem mais pendências com a Justiça", disse a Zimmerman, que apenas expressou alívio ao ouvir a decisão.
 
Após 16 horas de deliberações, as seis juradas do caso - cinco mulheres brancas e uma de origem hispânica - consideraram Zimmerman inocente. Trayvon Martin, de 17 anos, foi morto pelo acusado quando caminhava numa noite chuvosa em 26 de fevereiro de 2012 para a casa de seu pai.
 
Ativistas e líderes comunitários, por medo de protestos e reações violentas, pediram calma à população. A polícia reforçou sua presença em Sanford, e centenas de pessoas permaneciam reunidas em frente ao Tribunal de maneira pacífica.
 
 
Contudo, confrontos esporádicos foram registrados durante a noite em cidades dos estados de São Francisco, Filadélfia, Chicago, Washington e Atlanta, segundo a imprensa americana.
 
Defesa
"Estamos obviamente contentes com o resultado. George Zimmerman nunca foi culpado de qualquer coisa, exceto de proteger-se em auto-defesa", declarou o advogado de defesa, Mark O'Mara.
 No entanto, Don West, outro advogado de defesa, reconheceu que o caso foi uma "tragédia" pela morte do adolescente e por toda a polêmica levantada sobre a questão.
 
O caso dividiu o país entre aqueles que acreditam que Zimmerman - cujo pai é branco e sua mãe, peruana - matou o jovem por racismo, e aqueles convencidos que o vigilante agiu em legítima defesa.
 
"Deus nos abençoou e, até mesmo em morte, eu sei que o meu bebê está orgulhoso da luta que, junto com todos vocês, nós travamos", declarou em seu Twitter o pai da vítima, Tracy Martin, pouco depois do veredicto. Ele e a mãe de Trayvon, Sybrina Fulton, disseram estar "com o coração partido", mas agradeceram aqueles que lutam para que mortes como a de seu filho "não voltem a acontecer".
 
O júri teve de decidir entre as acusações de homicídio qualificado, punível com prisão perpétua, assassinato, punível com até 30 anos de prisão, e inocência, a escolhida.
 
Centenas de pessoas, famílias, estudantes, pastores negros e ativistas se aproximaram dos portões do Palácio da Justiça em Sanford para exigir "justiça para Trayvon Martin", enquanto que outros residentes da Flórida, em sua maioria brancos, comemoraram a inocência de George Zimmerman.
 
"Esse é o fim do nosso sistema de justiça. A Justiça não é igual para todos", declarou Ashton Summer, um jovem de origem porto-riquenha de 20 anos, revoltado com o veredicto.
 
 O promotor Bernie Rionda, chefe da acusação, disse que estava "desapontado com o veredicto", mas o aceitou, e, como os demais promotores e advogados de defesa de Zimmerman, pediu para que todos respeitassem de forma pacífica a decisão.
 
 A promotora do estado, Angela Corey, ressaltou que "fez o seu melhor" para mostrar ao júri todas as evidências de um caso que "merecia ser analisado", e lamentou o resultado.
 
 Zimmerman, de 29 anos, assegura que disparou contra o jovem em legítima defesa depois de ter sido atacado por Martin, um jovem de Miami.
 
 A morte de Martin e a demora na prisão de Zimmerman pela polícia no ano passado causou protestos em várias cidades do país, o que levou o presidente Barack Obama a se pronunciar sobre o caso. "Se eu tivesse um filho, ele se pareceria com Trayvon", disse Obama ao exigir um debate sobre o racismo e a lei das armas da Flórida.
 
  
O caso

 
Trayvon Martin morreu no dia 26 de fevereiro, quando seguia para a casa do pai em Sanford, no Estado da Flórida. Ele foi alvejado pelo vigilante voluntário George Zimmerman, que fazia uma patrulha no bairro.

A morte do rapaz, de 17 anos, que estava desarmado, provocou uma onda de protestos e tensões raciais em diversas cidades americanas, já que o Zimmerman não foi indiciado pela morte do garoto, com base em uma polêmica legislação da Flórida.

Na noite do incidente, o vigilante, de 28 anos, estava em seu carro e tinha ao seu lado uma pistola 9 milímetros legalmente registrada.

Segundo o seu depoimento, era uma noite chuvosa e recentemente a região havia registrado um aumento de criminalidade.

Em gravações divulgadas pelo serviço de atendimento de emergência 911, o vigilante diz: "Houve alguns arrombamentos (no bairro) recentemente, e agora há outro cara suspeito na vizinhança de Twin Lakes".

De acordo com o jornal The Miami Herald, Zimmerman teria dito que o rapaz parecia ter usado drogas e estar "aprontando alguma coisa".

"Está chovendo. Ele fica caminhando, olhando para as casas. Esses vagabundos sempre conseguem fugir", teria dito.

Pouco depois, a voz de Zimmerman fica ofegante, como se ele estivesse correndo, e ele diz ao 911 que está perseguindo o jovem. Segundos depois, ouve-se uma briga e um tiro.

Perseguição

Na última terça-feira, o advogado da família de Martin, Benjamin Crump, disse que garoto estava no telefone com a namorada até o momento em que foi morto.

Em entrevista divulgada por Crump, a menina, cujo nome não foi divulgado, disse que Trayvon comentou que um homem o estava seguindo. A namorada teria dito ao garoto que corresse.

"Trayvon disse a ela: 'Acho que o despistei'. E pouco depois, diz: 'Ele está logo atrás de mim'. A namorada o ouviu dizer (ao estranho): 'Por que você está me seguindo?' e, logo em seguida, uma voz disse: 'O que você está fazendo aqui?'", contou o advogado.

Crump disse ainda que a menina ouviu um empurrão, que ela acredita ter sido o fone de ouvido de Martin caindo, porque ela não o ouviu mais. Logo em seguida, ouviu ruídos e a linha caiu.

'Atire primeiro'

 
Trayvon Martin morreu com um disparo no peito efetuado pelo vigilante. Detido e interrogado pela polícia, o vigilante foi solto sem que uma acusação formal fosse registrada, e, portanto, sem a abertura de um inquérito.

Zimmerman alegou ter agido em legítima defesa e de acordo com a lógica da lei "atire primeiro" da Flórida, que permite que uma pessoa que percebe uma ameaça use força letal, sem antes tentar fugir do confronto, caso tenha indícios "razoáveis" de uma ameaça contra si mesmo ou outras pessoas.

Ele disse à polícia que o jovem deu início a uma briga e que foi obrigado a atirar em legítima defesa. Para o chefe da polícia de Sanford, Bill Lee, não foram encontradas evidências que contrariassem a argumentação do vigilante, e por isso não foram registradas acusações.

Amigos e professores disseram ao The Miami Herald que Martin não costumava procurar brigas, nem usar drogas.

De acordo com o jornal, em pelo menos duas ocasiões anteriores o Departamento de Polícia de Sanford foi acusado de favorecer familiares de oficiais envolvidos em situações de violência com negros.

Estadão

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Literatura Punany

Buck Breaking/Quebrando o Valentão: O Estupro sistemático de Homens Negros durante a escravidão nos EUA

Confissões de um velho reprodutor