Danny Glover foi no Programa do Jô. Rá rá!
Por: Alessandra de Mattos
Preta&Gorda
Estava eu ontem no silêncio da minha casa, ouvindo meu som e navegando
no Facebook, quando uma amiga me informa que o ator Danny Glover, seria
entrevistado no Programa do Jô. Glover, que
é casado com a professora universitária
brasileira Eliane Cavalleiro e embaixador da Boa Vontade para o Programa de Desenvolvimento
das Nações Unidas, está no país para participar de um movimento, que visa defender os direitos dos
trabalhadores americanos que não têm representação sindical nos Estados Unidos, e que formam uma campanha mundial para denunciar
as práticas antissindicais da montadora Nissan.
Eu, odeio a Rede Globo com todas as minhas forças, né? Acho
que todo mundo sabe disso. Principalmente o Jô Soares que adora fazer piadinha
racista, preconceituosa como bom funcionário global que é. Mas, resolvi assistir.
Muita gente pode pensar que se trata de exagero da minha
parte, mas me lembro muito bem quando a lindíssima Ellen Oléria esteve naquele
palco, e o Jô fez o grande favor de ser extremamente desagradável, com
piadinhas racistas, tais como chamar o Derico de "Careca-descendente"
(Uma óbvia alusão ao termo Afro-descendente), apresentar bananas durante a
entrevista já que o assunto era beber leite de Macadâmia que a Ellen disse que
adorava, além de o apresentador voltar a fazer "brincadeiras" veladas com o
termo afro-descendente ao dizer que ele, Jô Soares, não era gordo e sim
"gordo-descendente". Pra mim, não houve a menor dúvida de que ele
estava ali no papel de racista cordial que é, tentando desmoralizar a guerreira
que estava a frente dele. Felizmente, Ellen não desceu do salto, foi belíssima,
super simpática e se mostrou superior a todo o ataque racista.
Só que diante disso e de inúmeros outros fatos/críticas que
sempre tomo conhecimento a respeito do Jô e suas piadas infames, me deixou
satisfeita por saber horas antes que Danny esteve com ativistas do movimento
negro em São Paulo, o que me deixou bem mais aliviada por saber que
possivelmente já o tinham alertado acerca da emissora e principalmente do
programa.
A entrevista foi belíssima. Danny super bem articulado em seu
discurso, falou sobre os manifestos (embora eu já tenha minha opinião formada
sobre eles) no Brasil: “Pelo que ouvi e entendi da dinâmica que está
acontecendo, acho que as manifestações são uma parte muito importante
da maturidade democrática do país”, disse o ator. Falou sobre o desafio de se eliminar a
pobreza no mundo, o que considera um dos principais desafios para o século 21.
“Com tanta riqueza e tecnologia
que temos, agora é o momento de distribuirmos essa riqueza. Precisamos salvar a
humanidade e esse lugar frágil chamado planeta Terra também”. E é claro, a
minha parte preferida: Da necessidade de se criar projeções midiáticas no
cinema e na TV. Disse entre outras coisas, que a necessidade do negro não é ser
visto apenas em comerciais de TV. É também ser visto em rodas de conversa onde
se dialoga e se resolve questões importantes para o seu próprio
desenvolvimento. Uma crítica sutil a não representatividade descente do negro
na televisão brasileira, em plena Rede Globo!
O que tornou cômica a entrevista foi
a desfaçatez do Jô Soares. Em toda a entrevista ele se mostrou totalmente ‘por
dentro’ das nossas questões tanto aqui como nos EUA, ao ponto de citar exemplo
de como se faz o culto a falsa democracia racial neste país, analisando a forma
que o brasileiro tenta justificar seu discurso racista e desmentir o seu
próprio racismo, dizendo que tem N amigos negros. Grande ator, esse Jô Soares.
Querendo passar uma postura antirracista, defensor e admirador da causa. Só
acreditou naquilo quem é tão racista quanto. Tsc!
Em sua visita a favela de Heliópolis, Danny e seu grupo constataram alguns fatos:
(trecho
extraído de Rede Brasil Atual)
“‘Percebemos que no Brasil
as pessoas têm superado as próprias expectativas diariamente”, afirma Glover, referindo-se ao nível de consciência
política e social dos homens e mulheres da comunidade: “Moradia e educação de
qualidade para nossos filhos não são
um privilegio, mas um direito. Vocês estão mudando a realidade e o rosto do Brasil’...
...José
Marcelo da Silva, morador da favela e representante da Ação Comunitária Nova Heliópolis, disse que os moradores das
periferias não vivem, são “sobreviventes” e que, se o país ainda vive uma
situação de desigualdade, ela é ainda maior quando se trata de negros e pobres.
“Atualmente, ainda buscamos a legalização de terras para moradores na área de
urbanização da comunidade”, afirma. Heliópolis, numa uma área de
aproximadamente 1 milhão de metros quadrados, é a segunda maior favela de São
Paulo...”.
Mesmo com toda desfaçatez do Jô,
valeu a pena ter assistido! Muito me orgulha ver pretos empoderados vindos de
qualquer parte do mundo!
4P!
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