Educafro diz que bônus da USP é ‘mentira’
Para líder de ONG, universidade ‘chuta’ número de vagas necessárias para suprir déficit alunos negros
A Educafro, maior ONG da causa negra no
Brasil, classificou como “mentira” a criação de um bônus de 5% nas notas
aos vestibulandos da USP que se declararem pretos, pardos e indígenas. O
anúncio foi feito no dia 2 pela universidade paulista. A medida já vale
para o próximo vestibular da instituição.
Segundo o diretor executivo da ONG, frei David, a USP não tem
critérios na hora de estipular a quantidade de vagas necessárias para
suprir o déficit de negros e pardos na universidade. “Perguntei à USP
quais foram os critérios para chegar aos 5% de bônus. Sabe qual foi a
resposta? Nenhuma. Isso (os bônus) é uma mentira”, disse.
A USP foi uma das últimas universidades públicas de ponta a aderir ao
sistema de bônus raciais. Para frei David, a USP é composta por
“feudos”. “A Fuvest, que controla o vestibular, tem total autonomia. A
USP é uma coisa, a Fuvest é outra. Isso é problema”, afirmou.
Em 2012, o governo federal regulamentou a lei que garante a reserva
de 50% das vagas nas universidades federais, em um prazo progressivo de
até quatro anos, para estudantes que cursaram o ensino médio em escolas
públicas. Porém, as universidades estaduais, que é o caso da USP, não
são obrigadas a se enquadrar. “É um contrasenso porque o STF (Supremo
Tribunal Federal) sinalizou a aprovação de ações afirmativas nas
universidades públicas em geral”, disse frei David.
Bônus extra/ A USP defende-se dizendo que somados
todos os bônus a negros, pardos e indígenas, incluindo o tempo de estudo
na rede pública, o aluno pode ter até 25% da nota no vestibular
aumentada.
Incentivo aos negros não acirra preconceito, diz ativista
A decisão da USP pode ser uma forma de acirrar o preconceito, ao preterir o mérito intelectual pela cor da pele do aluno?
Não é a resposta do professor da Faculdade Zumbi dos Palmares e
ex-secretário de Justiça do estado de São Paulo, Hédio Silva Júnior.
“Não existe professor negro na USP. Por aí já se tem o cenário racial
atual.” Na opinião dele, a defasagem educacional entre brancos e negros
justifica a existência das cotas e bônus. “O vestibular analisa uma
situação de momento. Um aluno que vai bem no vestibular não
necessariamente vai bem na faculdade ou no mercado de trabalho. Por
outro lado, tem muito estudante que não vai tão bem no vestibular mas,
graças ao esforço, ele se supera, se torna um grande aluno e um ótimo
profissional. É o que acontece com a maior parte dos cotistas porque
eles dão valor à chance que tiveram, pois sabem como foi difícil chegar
até ali.”
O estudante Felipe dos Santos, de 12 anos, é negro, estuda em escola
pública e disse gostar da medida. “Quero fazer TI (tecnologia da
informação) ou algum outro curso voltado à informática. Tenho um sonho
de estudar na USP”, afirmou.
Fonte: Diário de SP
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