Mapa da Violência 2013 confirma o extermínio da juventude negra no Estado
Taxa de homicídios de jovens negros no ES em 2011 ficou em 144,6 por 100 mil; a de brancos ficou em 37,3.
O
Mapa da Violência 2013 – Homicídios e Juventude no Brasil, elaborado
pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfiz, e lançado pelo Centro de Estudos
Latino-Americanos (Cebela) e pela Faculdade Latino-Americana de Ciências
Sociais (Flacso) traz dados ainda mais aterradores sobre a violência
letal contra a população negra e, principalmente contra a juventude
negra no Estado, com idade entre 15 e 24 anos, que passou a ser o grupo
etário mais vulnerável à violência.
O estudo, que é usado como base de dados para a formulação de políticas
públicas e como parâmetro pelo Ministério da Justiça, atesta que a
juventude negra está sendo exterminada no Estado, como há muito tempo
vem denunciando o Fórum Estadual da Juventude Negra (Fejunes) e o
Movimento Negro.
As taxas de mortes de jovens negros são de países que estão em guerra
civil. Em 2011, ano usado como base de pesquisa, a taxa no Estado ficou
em 144,6 mortes violentas de jovens negros por grupo de 100 mil,
enquanto a taxa entre jovens brancos ficou em 37,3. Nos dois casos, o
Espírito Santo é o segundo do País, no caso de homicídios de jovens
brancos fica apenas atrás do Paraná, e de jovens negros é o segundo.
Alagoas lidera.
O próprio estudo caracteriza a taxa do Estado como inaceitável e deixa
claro a seletividade de jovens negros como vítimas preferenciais de
homicídios.
O Mapa também aponta que, se os índices de homicídio do País estagnaram
em uma década, ou mudaram pouco, “foi devido a essa associação
inaceitável e crescente entre homicídios e cor da pele das vítimas, pela
concentração progressiva da violência acima da população negra e, de
forma muito especial, nos jovens negros. E o que alarma mais ainda é a
tendência crescente dessa mortalidade seletiva”.
No total da população negra do Estado, o Espírito Santo também ocupa o
segundo lugar no ranking, com taxa de 60,3 mortes de negros por 100 mil.
Enquanto isso, entre brancos, a taxa cai para 16 por 100 mil (10ª
posiçã).
Causadores
O Mapa da Violência enumera diversos fatores que limitam ou cerceiam os
esforços para de reversão da violência letal. Dentre eles está a
cultura da violência.
O estudo, mais uma vez, desconstrói a ideia que a violência homicida do
País está diretamente ligada e explicada pelas estruturas do crime,
mais especificamente da droga. O Mapa mostra evidências que apontam
exatamente o contrário.
A cultura da violência contribui ainda mais para a violência letal. A
pesquisa que fundamentou a campanha “Conte até 10. Paz. Essa é a
Atitude”, do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), com base em
inquéritos policiais mostrou que preponderam no país os crimes por
motivos fúteis ou por impulso.
A impunidade também é apontada como fator de peso para a limitação da
redução da violência letal. O baixíssimo índice de elucidação de
inquéritos de homicídios é o principal desafio para a redução da
violência.
Outro fator limitador é a tolerância institucional. O sistema de
naturalização ou aceitação da violência opera em diversos mecanismos,
mas principalmente pela culpabilização da vítima, justificando a
violência dirigida, principalmente, a setores subalternos ou
particularmente vulneráveis que demandam proteção específica, como
mulheres, crianças e adolescentes e idosos.
“Por essa via, a estuprada foi quem provocou o estupro, ou ela vestia
como uma ‘vadia’; o adolescente torna-se marginal, delinquente, drogado
ou traficante. A própria necessidade de leis ou mecanismos específicos
de proteção: Estatutos da Criança, do Adolescente, do Idoso; Lei Maria
da Penha, ações afirmativas, indicam claramente as desigualdades e
vulnerabilidades existentes”, diz o estudo.
Desta forma, continua o estudo, uma determinada dose de violência
torna-se aceita, inclusive por aquelas pessoas e instituições que teriam
a obrigação e responsabilidade de protegê-los.
Fonte: Século Diário
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