Merrill Lynch pagará indenização recorde por discriminação racial
Leia também: A Carta de Lynch (qualquer semelhança com o sobrenome será mera coincidência?).
AFP - Agence France-Presse
O banco norte-americano Merrill Lynch, acusado de discriminação
racial, pagará uma cifra recorde nos Estados Unidos por dificultar a
carreira de centenas de funcionários negros, disseram advogados nesta
quarta-feira.
O Merrill Lynch, braço do banco de investimentos Bank of America,
pagará 160 milhões de dólares em uma ação por discriminação racial
apresentada em 2005 em nome de cerca de 1.200 funcionários, disse à AFP
Suzanne Bish, advogada dos demandantes.
"Esta é, acredito, a quantia mais alta jamais paga a um fundo
indenizatório no marco de uma ação de discriminação trabalhista", que
inclui discriminação sexual ou racial, disse Bish.
A ação, interposta por George McReynolds, assessor financeiro da
sucursal do banco em Nashville (Tennessee, sul), acusava o Merrill Lynch
de "realizar práticas sistemáticas e generalizadas de discriminação
racial e represálias, assim como políticas de remuneração e de acesso a
promoções desiguais".
Um porta-voz do Bank of America-Merrill Lynch não fez comentários
sobre a quantia, limitando-se a dizer: "Estamos trabalhando em uma
resolução muito positiva de uma ação apresentada em 2005 e para melhorar
as oportunidades dos assessores financeiros afro-americanos".
O acordo ainda deve ser aprovado por um juiz. Uma audiência está prevista para o dia 3 de setembro.
O paradoxo do diretor negro.
Ironicamente, a ação foi apresentada quando o banco era dirigido por
um negro, Stanley O'Neal, um veterano de Wall Street que esteve à frente
da entidade de 2003 a 2007. O Merrill Lynch foi comprado pelo Bank of
America no começo de 2009, durante a crise financeira.
"Queríamos ressaltar as práticas sistemáticas na empresa e não a
conduta de uma pessoa", disse Bish, que destacou que O'Neal ascendeu na
empresa a partir do banco de investimentos, onde os negros não tinham
que enfrentar os mesmos desafios.
Entrevistado por causa deste processo, O'Neal reconheceu que os
corretores negros tiveram, talvez, mais dificuldades em sua carreira,
sobretudo, porque muitos dos clientes do banco, predominantemente
brancos, no queriam confiar a eles a gestão de seu dinheiro.
Segundo Bish, O'Neal tentou atribuir as diferenças salariais e de
carreira dos corretores a "barreiras culturais e raciais externas à
empresa".
"Muito a fazer"
Antes de ser validada como tal, a ação coletiva foi rejeitada três vezes e enviada duas vezes à apelação.
O texto da ação alegava que o Merrill Lynch não empregava então
negros suficientes, que representavam apenas 2% dos corretores da
empresa; não lhes dava promoções suficientes, não os nomeava a postos
bem remunerados e os confinava a postos de empregados o que não gerava
grandes volumes de negócios.
O Merrill Lynch também foi acusado de "evitar que os funcionários
afro-americanos participassem de seminários de formação para
transformá-los em executivos ou de tirar contas e clientes dos
corretores negros para atribuí-las a corretores brancos".
O demandante principal, George McReynolds, que entrou no Merrill
Lynch em 1983 e ainda trabalha como assessor financeiro, denuncia na
ação a discriminação que sofreu, incluindo os comentários depreciativos
sobre os negros pelos gerentes da sucursal.
Estas práticas "não dizem respeito apenas ao Merrill Lynch entre os
principais bancos e corretores da bolsa em Wall Street", disse Bish, que
afirmou que ainda resta "muito a fazer" em termos de discriminação
racial em ambientes de trabalho nos Estados Unidos.
O anúncio da iminente resolução desta disputa foi feito nesta
quarta-feira, quando é comemorado em Washington o 50º aniversário do
discurso de Martin Luther King Jr., "I have a Dream", que abriu o
caminho para o fim da segregação racial no país.
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