Universidades negras dos EUA buscam acordos acadêmicos no Brasil
Rio de Janeiro
Uma delegação representando 105 faculdades e universidades
historicamente negras nos Estados Unidos (EUA) - Historically Black
Colleges and Universities (HBCUs) - chegou ao Brasil nesta-segunda-feira
(19) para uma visita de dez dias a universidades e escolas técnicas
brasileiras em busca de acordos de intercâmbio acadêmico. Parceira do
Brasil desde o ano passado no programa federal Ciências sem Fronteiras,
as HBCUs receberam aproximadamente 350 alunos brasileiros neste semestre
e esperam mais 150 para estudarem durante um ano nos EUA.
O
chefe da comitiva e diretor da Iniciativa da Casa Branca para Faculdades
e Universidades Historicamente Negras, Meldon Hollis, explicou que a
meta do acordo é levar cerca de mil alunos no ano que vem para estudar
nas HBCUs pelo programa Ciências sem Fronteiras, além de expandir
acordos bilaterais entre as universidades dos dois países.
“Queremos
que os brasileiros conheçam melhor nossas instituições e queremos
conhecer melhor as instituições brasileiras. Já recebemos professores
brasileiros e estamos providenciando bolsas para nossos estudantes e
professores virem para cá”, disse Hollis. “Alguns professores devem vir
ensinar inglês aos alunos que estiverem indo estudar nas HBCUs que têm
dificuldade com o idioma”.
As HBCUs foram fundamentais para a
inclusão de afro-americanos na formação de nível superior até 1964,
quando uma lei federal (American Civil Rights Act) tornou ilegal a
proibição de estudantes negros em instituições de ensino superior,
prática exercida por vários estados no Sul dos EUA. Hollis, que é negro,
disse que ainda estudante, na década de 60, foi obrigado a se mudar da
Georgia para Washington para fazer faculdade.
“Queria ser
engenheiro, mas não havia universidades de engenharia para negros no
estado onde eu morava. As universidades não aceitavam negros, então meu
estado pagou para que eu estudasse em uma faculdade em outro estado”,
disse.
Hollis explicou que quase 50 anos depois da lei que
possibilitou aos negros nos Estados Unidos frequentar qualquer
universidade, as HBCUs continuam a desempenhar um papel importante na
inclusão social desse grupo, que ainda enfrenta obstáculos no acesso ao
ensino superior.
“Embora tenhamos cerca de 3 mil instituições de
nível superior nos EUA, a maioria dos estudantes negros vem das HBCUs.
Na maioria dos estados onde existem HBCUs, essas instituições são as que
mais empregam profissionais afro-americanos, que mais formam PhDs
[Doctor of Philosophy, doutor em tradução livre]”, disse ele, que citou o
líder negro Martin Luther King e a apresentadora Oprah Winfrey como
exemplos de personalidades negras americanas que se formaram em HBCUs.
Entre
60% e 70% dos mais de 300 mil estudantes das HBCUs são negros, segundo
Hollis, que encontram nessas instituições apoio para superar
preconceitos raciais e capacitação acadêmica. “Nessas instituições é
possível aprender também sobre a cultura e a história dos povos
africanos”, completou.
A maioria dos brasileiros que cursam as
HBCUs atualmente é branco, mas o chefe da comitiva acredita que as
futuras parcerias tendem a aumentar o número de estudantes negros nas
instituições.
A diretora da área de Serviços Instrucional e para
Estudantes da escola técnica J. F. Drake State, no Alabama, Patrícia
Sims, acredita que as HBCUs podem contribuir para o empoderamento dos
estudantes negros brasileiros. “O acesso é o que oferecemos de mais
relevante e é o que queremos oferecer para os estudantes brasileiros”,
disse.
Para a representante da Universidade Jackson State, no
Mississipi, Patricia Jernigan, assim como ocorre no Brasil, muitos
estudantes negros, pela falta de acesso a boas escolas, não conseguem
entrar na faculdade ou quando entram não conseguem concluí-la. “Nas
HBCUs temos programas para garantir que esses alunos recebam todos os
recursos necessários para concluir com sucesso os cursos em que estão”,
disse. “Nossas escolas recebem estudantes muito preparados, mas essas
instituições foram especialmente criadas para receber alunos não tão
preparados, por isso não recuamos em nossa missão. Esperamos que essa
experiência que adquirimos possar ser útil para instituições no Brasil”.
De
acordo com a diretora da Faculdade de Administração da Universidade do
Alabama, Le-Quita Booth, as HBCUs criam um ambiente de cuidado e
proteção para afrodescendentes de outros países. “Nas demais
universidades, ele [aluno negro] é apenas mais um estudante estrangeiro.
Nas HBCUs é como se fosse acolhido por uma família e tomamos cuidado
especial para garantir que o aluno tenha êxito no curso”, disse.
No
Rio, as instituições visitadas serão Ibmec, Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal Fluminense (UFF), Centro
Federal de Educação Tecnológica (Cefet), Pontifícia Universidade
Católica (PUC-Rio), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Rio de Janeiro (IFRJ) e a Universidade Estadual do Norte Fluminense
(Uenf).
Além das visitas marcadas no Rio de Janeiro, o grupo tem
reuniões agendadas com universidades em São Paulo, Campinas, São Carlos,
Ribeirão Preto, Uberlândia, Goiânia, Brasília, Juiz de Fora, Ouro
Preto, Belo Horizonte e Salvador. Ao final do programa todos se reunirão
em Brasília para encontros com representantes do Ministério de
Educação.
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