Universidades negras dos EUA buscam acordos acadêmicos no Brasil
As instituições querem aumentar o número de estudantes brasileiros nos Estados Unidos por meio do programa Ciência sem Fronteiras.
Uma
delegação representando 105 faculdades e universidades historicamente
negras nos Estados Unidos (HBCUs, na sigla em inglês) chegaram ao Brasil
nesta segunda-feira para uma visita de dez dias a universidades e
escolas técnicas brasileiras em busca de acordos de intercâmbio
acadêmico.
Parceira do Brasil desde o ano passado no programa
federal Ciências Sem Fronteiras, as HBCUs receberam aproximadamente 350
alunos brasileiros neste semestre e esperam mais 150 no semestre para
estudarem durante um ano nos EUA.
O chefe da comitiva e diretor da Iniciativa da Casa
Branca para Faculdades e Universidades Historicamente Negras, Meldon
Hollis, explicou que a meta do acordo é levar cerca de mil alunos no ano
que vem para estudarem nas HBCUs pelo programa Ciências Sem Fronteiras,
além de expandir acordos bilaterais entre as universidades dos dois
países.
Nessas instituições é possível aprender também sobre a cultura e a história dos povos africanos
Meldon Hollis
diretor da Iniciativa da Casa Branca para Faculdades e Universidades Historicamente Negras
"Queremos que os brasileiros conheçam melhor nossas
instituições e queremos conhecer melhor as instituições brasileiras. Já
recebemos professores brasileiros e estamos providenciando bolsas para
nossos estudantes e professores virem para cá", disse Hollis. "Alguns
professores devem vir ensinar inglês aos alunos que estiverem indo
estudar nas HBCUs que têm dificuldade com o idioma".
As HBCUs foram fundamentais para a inclusão de afro-americanos na formação de nível superior até 1964, quando uma lei federal (American Civil Rights Act) tornou
ilegal a proibição de estudantes negros em instituições de ensino
superior, prática exercida por vários estados no Sul dos EUA. Hollis,
que é negro, disse que ainda estudante, na década de 1960, foi obrigado a
se mudar da Georgia para Washington para fazer faculdade.
"Queria ser engenheiro, mas não havia universidades de
engenharia para negros no estado onde eu morava. As universidades não
aceitavam negros, então meu estado pagou para que eu estudasse em uma
faculdade em outro estado", disse.
Hollis explicou que quase 50 anos depois da lei que
possibilitou aos negros nos Estados Unidos frequentarem qualquer
universidade, as HBCUs continuam a desempenhar um papel importante na
inclusão social desse grupo, que ainda enfrenta obstáculos no acesso ao
ensino superior.
"Embora tenhamos cerca de 3 mil instituições de nível
superior nos EUA, a maioria dos estudantes negros vem das HBCUs. Na
maioria dos estados onde existem HBCUs, essas instituições são as que
mais empregam profissionais afro-americanos, que mais formam PhDs",
disse ele, que citou o líder negro Martin Luther King e a apresentadora
Oprah Winfrey como exemplos de personalidades negras americanas que se
formaram em HBCUs.
Entre 60% e 70% dos mais de 300 mil estudantes das HBCUs
são negros, segundo Hollis, que encontram nessas instituições apoio
para superar preconceitos raciais e capacitação acadêmica. "Nessas
instituições é possível aprender também sobre a cultura e a história dos
povos africanos", completou.
A maioria dos brasileiros que cursam as HBCUs atualmente
são brancos, mas o chefe da comitiva acredita que as futuras parcerias
tendem a aumentar o número de estudantes negros nas instituições.
A diretora da área de Serviços Instrucional e para
Estudantes da escola técnica J. F. Drake State, no Alabama, Patrícia
Sims, acredita que as HBCUs podem contribuir para o empoderamento dos
estudantes negros brasileiros. "O acesso é o que oferecemos de mais
relevante e é o que queremos oferecer para os estudantes brasileiros",
disse.
Para a representante da Universidade Jackson State, no
Mississipi, Patricia Jernigan, assim como ocorre no Brasil, muitos
estudantes negros, pela falta de acesso a boas escolas, não conseguem
entrar na faculdade ou quando entram não conseguem concluí-la. "Nas
HBCUs temos programas para garantir que esses alunos recebam todos os
recursos necessários para concluir com sucesso os cursos em que estão",
disse. "Nossas escolas recebem estudantes muito preparados, mas essas
instituições foram especialmente criadas para receber alunos não tão
preparados, por isso não recuamos em nossa missão. Esperamos que essa
experiência que adquirimos possar ser útil para instituições no Brasil".
De acordo com a diretora da Faculdade de Administração
da Universidade do Alabama, Le-Quita Booth, as HBCUs criam um ambiente
de cuidado e proteção para afrodescendentes de outros países. "Nas
demais universidades, ele (aluno negro) é apenas mais um
estudante estrangeiro. Nas HBCUs é como se fosse acolhido por uma
família e tomamos cuidado especial para garantir que o aluno tenha êxito
no curso", disse.
No Rio, as instituições visitadas serão IBMEC,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal
Fluminense (UFF), Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet),
Pontifícia Universidade Católica (Puc-Rio), Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) e a Universidade
Estadual do Norte Fluminense (Uenf).
Além das visitas marcadas no Rio de Janeiro, o grupo tem
reuniões agendadas com universidades em São Paulo, Campinas, São
Carlos, Ribeirão Preto, Uberlândia, Goiânia, Brasília, Juiz de Fora,
Ouro Preto, Belo Horizonte e Salvador. Ao final do programa todos se
reunirão em Brasília para encontros com representantes do Ministério de
Educação.
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