Gostoso como um abraço?
Por Maria Rita Casagrande
Feche os olhos e imagine por um minuto:
Então você, negra, de black e linda acorda em um belo
domingo e decide ir até o shopping, como você tem uma filha/o e como
crianças de qualquer idade, tamanho, cor de pele (sim, pasmem, as negras
também) usam e perdem muitas roupas você entra em uma loja cujo slogan remete a um carinho para fazer compras. Sua filha/o passa mal e vomita dentro da loja. Até aqui tudo comum na vida de QUALQUER
mãe, quem nunca passou por uma situação do tipo que atire a primeira
pedra. A situação começa a ficar incomum no pior sentido da palavra,
quando a vendedora te traz um balde e um pano e te coloca para limpar a
loja ‘Por gentileza, a senhora limpe essa sujeira da loja‘. No
susto e no desespero, porque ter sua filha/o sem roupa, passando mal,
exposta ao ar condicionado é uma situação desesperadora, você executa a
tarefa enquanto vendedores e clientes observam sua atividade.
Consegue imaginar esta situação acontecendo? Agora
mude um pouquinho os detalhes e altere esta mãe para alguém de pele
branca. Foi mais difícil enxergar agora? Doeu mais o frio da criança ou o
constrangimento da mãe?
O caso ocorrido na loja Malwee do shopping
Interlagos chegou a público depois que a mãe em questão publicou seu
desabafo nas redes sociais. Eu acompanhei o caso com olhos bem atentos
não apenas porque eu considerei de um racismo inacreditável (sim sou da
opinião que se esta mãe fosse branca a vassoura JAMAIS lhe seria
apresentada e também porque não acho que o racismo no Brasil esteja de
mãos dadas com o Papai Noel, o Coelho da Páscoa e o Saci, portanto ele
existe e se materializa diante dos nossos olhos sempre que há uma
brecha), foi também de um despreparo e falta de tato e empatia das
vendedoras da loja, que poderiam ao menos ter oferecido um copo de água
para esta criança, chamado socorro ou acionado o serviço de limpeza.
Responsabilidade das vendedoras? Sim sem duvida, algumas coisas a gente
traz no coração e ponto final. Mas e a Malwee? Até onde eu sei,
vendedores passam por treinamentos, aprendem sobre as atividades da
loja, sobre respeito e ética. Me pergunto: que treinamento as moças
envolvidas receberam uma vez que a própria Malwee apresenta uma
nota que mais parece um atestado de descaso na mesma rede social que a
mãe apresentou o seu caso e como ele foi muito criticado na própria
página da marca exigia um “cala boca”.
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