Moradores de palafitas sofrem com esquecimento e a discriminação

Como é a vida de um morador de palafita

Morador de palafita conta as dificuldades de morar em casas construídas com pedaços de madeiras e paus de mangue nas águas da Ilha de São Luís

Socorro Arouche



“Um lugar excluído da sociedade”. Essas são as palavras do gesseiro Weberth Abreu para definir o quanto é complicado morar em uma palafita. Esta realidade é igual para centenas de famílias que sobrevivem em casas feitas com sobras de madeiras e troncos de árvores oriundas dos mangues. Casa essas construídas pelos próprios moradores, embaixo de pontes, sob rio e manguezais. Essa é a vida de quem vive nas palafitas espalhadas pela grande ilha de São Luís.

No local não tem nenhum tipo de infraestrutura e para chegar às casas é bem complicado. Caminhar pelas pontes que dão acesso as residências é sem dúvida uma aventura para pessoas que desafiam a lei da gravidade.

Para quem não está acostumado a caminhar pelas passagens estreitas e instáveis é um grande desafio. Porém para quem convive com isso todos os dias é uma triste realidade. É preciso muito equilíbrio. As casas chegam até a balançar é uma sensação assustadora.

Para quem mora no endereço Rua Santa Tereza, embaixo da Ponte Bandeira Tribuzzi, bairro do Jaracati, é assim. Um dos moradores da localidade, Weberth Abreu, 31 anos, gesseiro, casado pai de três filhos, conta um pouco da vida de uma pessoa que mora nestas condições. Na primeira frase da matéria, ele já expressou um pouco da opinião de morar no local, mas está submetido às condições por pura necessidade.

Segundo o pai de família, a vida de quem mora em palafitas não é nada fácil por diversos fatores, principalmente o descaso e também pela discriminação das pessoas. Ele ressaltou que muitos sentem medo de aproximar de áreas como essas por considerarem uma região perigosa onde só vivem marginais e drogados. “Os problemas são constantes. A impressão que a gente tem é que as pessoas que moram aqui nas palafitas possuem algum tipo de doença contagiosa porque as pessoas nunca se aproximam”, disse Weberth.

Para ele, além de ser um lugar que não agrada aos olhos, as pessoas que moram nas palafitas ainda enfrentam a situação de abandono. “A gente vota, elege esse povo pra ver se melhora alguma coisa e nesse caso, não melhora em nada, você não tem saúde, moradia digna, e a educação é um caos. É muito difícil viver nesta situação”, desabafou o pai de família.


Cerca de 20 famílias residem no local – embaixo da Ponte Bandeira Tribuzzi. Praticamente todas as casas possuem três cômodos: sala, quarto e cozinha, o banheiro é improvisado e os dejetos são depositados diretamente sobre a água.



Perigo constante

As crianças são as que mais sofrem por conta do perigo que o local lhes proporciona. Toda criança necessita de espaço físico para brincar, é justamente o que elas não têm. O perigo de cair a qualquer descuido é constante, como conta Weberth. “Meu filho já caiu três vezes, só não morreu porque Deus estava no comando, da última vez, era noite, eu estava no quarto e minha esposa na cozinha, de repente se ouviu um barulho de algo caindo, minha mulher sentiu falta do menino e no desespero se jogou na água para salvá-lo. Ele estava agarradinho em dos paus que dá sustentação a casa”, narrou o pai.

Programa Social

Algumas famílias participam de algum dos programas sociais do Governo Federal, como Bolsa Família, Bolsa Escola e o Minha Casa, Minha Vida. Segundo Weberth uma moradora foi contemplada em uma casa, porém não pode receber o imóvel. Ela teria que pagar algumas taxas para poder receber o imóvel e como não tinha dinheiro – a quantia de R$ 1 mil – acabou perdendo essa oportunidade.


Para Weberth fica um pouco complicado pra quem mora no local ter como arcar com uma despesa dessas. “Muitos aqui só dependem dessa Bolsa Família para sobreviverem, então como é que vão ter condições de pagar R$ 1 mil só de uma vez. Não tem condições”, finaliza.

Fonte: Folha do Município

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