Mulheres negras conquistam o Mundial de Judô 2013 - por Bia Cardoso
por Bia Cardoso
Durante os dias 26
de agosto a 1° de setembro, aconteceu no Rio de Janeiro o Campeonato
Mundial de Judô 2013. O judô é um esporte que no Brasil sempre teve
popularidade, sendo praticado por muitas crianças, produzindo bons
resultados em competições internacionais. O que me chamou atenção nessa
competição específica foi a grande quantidade de mulheres da seleção
brasileira feminina que chegaram ao pódio e o fato de muitas serem
negras.
De um total de sete medalhas conquistadas pela
delegação brasileira, seis foram resultados das mulheres. Rafaela Silva
ganhou ouro, Érika Miranda e Maria Suelen Altheman ganharam prata, Sarah
Menezes (que já havia conquistado uma medalha de ouro nas Olimpíadas de
Londres 2012) e Mayra Aguiar ganharam bronze. Além das medalhas
individuais, a seleção feminina ganhou prata na competição por equipes.
Uma vitória impressionante para uma competição que reúne as melhores
judocas do mundo. O Brasil terminou a competição em 4° lugar geral,
sendo que os homens contribuíram com apenas uma medalha.
Não
é todo dia que vemos brasileiras, negras, vindas de comunidades
periféricas alcançarem grandes feitos no esporte. Para ter uma carreira
de atleta é preciso dedicação, treino e apoio financeiro. A primeira
grande conquista do judô feminino em competições internacionais foi a
medalha de bronze de Ketleyn Quadros nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008.
Ketleyn também foi a primeira mulher a ganhar uma medalha em esportes
individuais para o Brasil na história das Olimpíadas. Você sabia disso?
Sabia que uma mulher negra foi a primeira brasileira a conquistar uma
medalha olímpica em esportes individuais? Eu não. E acredito que muitas
pessoas não saibam.
Com a conquista no Mundial, Rafaela
Silva é a primeira mulher brasileira campeã mundial de judô. Carioca da
Cidade de Deus e atleta do Instituto Reação, ONG do ex-judoca Flavio
Canto, que tem apoio do governo do estado do Rio de Janeiro, e atua em
comunidades de baixa renda, tendo como objetivo a promoção do
desenvolvimento humano e da inclusão social por meio do judô. Em 2012,
nas Olimpíadas de Londres, Rafaela foi eliminada após executar um
movimento ilegal numa luta. Por conta disso, foi chamada de ‘macaca’ e
outros insultos racistas por pessoas nas redes sociais.
Quando
penso em grandes atletas brasileiras que sempre são divulgadas na
mídia, lembro de Maria Lenk da natação (a primeira brasileira a
participar de Jogos Olímpicos), Hortência do basquete, Maria Ester Bueno
do tênis, Marta do futebol, Maurren Maggi do salto em distância (a
primeira brasileira a ganhar uma medalha de ouro em esportes
individuais). Talvez a primeira atleta negra que venha a mente de muitas
pessoas seja Daiane dos Santos da ginástica olímpica. Os mais velhos
talvez se lembrem de Janeth do basquete ou Marcia Fu do vôlei. Mas será
que mulheres negras que tem conquistas pioneiras como Ketleyn Quadros
entram nas listas de melhores atletas do Brasil? São lembradas por seus
feitos?
Como no mercado de trabalho formal, também há
muito machismo nos rendimentos e investimentos dos atletas e as mulheres
acabam ganhando menos em algumas competições. Mesmo no vôlei, em que a
seleção feminina é a atual bicampeã olímpica, estima-se que o
investimento nas equipes seja cerca de 30 vezes menor que dos times
masculinos na Superliga. A seleção feminina de futebol é praticamente
ignorada pela CBF, mesmo tendo Marta, eleita cinco vezes como melhor
jogadora do mundo.
No
Brasil, nossa síndrome de cachorro vira-lata muitas vezes nos faz
cobrar dos atletas que representam nosso país em competições
internacionais um desempenho fora do comum, porque na maioria das vezes
não há condições favoráveis para um desempenho excepcional. Então, é
comum ver atletas sendo ofendidos em redes sociais, nesse momento poucas
pessoas pensam em todos os obstáculos que são ultrapassados para se
chegar até ali. No caso das mulheres negras é preciso enfrentar muitas
vezes a pobreza, o racismo, a falta de confiança, o machismo e tudo mais
que joga contra para brilhar numa área que exige muita concentração,
além do bem estar físico e psicológico.
Estamos vendo
cada vez mais mulheres negras conquistando posições de destaque em
esportes. A jogadora de tênis Serena Willians (que venceu pela quinta
vez o torneio US Open no último final de semana) é, provavelmente, o
maior ícone internacional. No Brasil, temos vários destaques no vôlei
feminimo como Fernanda Garay e Fabiana Claudino. E agora, temos quatro
judocas entre as melhores do mundo: Rafaela Silva, Sarah Menezes, Érika
Miranda e Maria Suelen Althernam. Agora é lutar e torcer para que as
mulheres negras encontrem espaço em outras modalidades e que jovens
meninas negras que sonham em ser atletas conquistem seus pódios.
Fonte: Blogueiras Negras
Comentários
Postar um comentário
Deixe um comentário! É muito importante para nós!