Violência Doméstica e Mulher Negra: Especificidades de uma Realidade
Vivemos em uma época de muitos “modismos” acadêmicos e sociais.
Ouvimos falar de vários assuntos, situações, polêmicas e problemas que
acometem nossa população, mas em muitos casos isso aparece de forma
generalista sem considerar que vivemos numa sociedade “multifacetada”,
“pluralista” em sua composição. Quando falamos em qualquer situação
precisamos entender que “tal situação” tem “cor”, “idade”, gênero” e
espaço.
Não podemos discutir a violência contra a mulher sem levar em
consideração que mulheres negras têm uma construção histórica, vivem sob
determinadas condições objetivas diferentes e específicas. Devemos
analisar não somente a perspectiva de que a sociedade brasileira é de
base patriarcal, mas que também se forjou a partir do racismo. Dados da
DEAM-MG nos revela que 65 % das atendidas em caso de violência
doméstica são mulheres declaradamente negras, isso se deve ao fato não
somente do recorte racial na classe popular, mas nos revela que as
mulheres negras ocupam majoritariamente o lugar de “agredidas”, já que a
maioria dos casos elucidados está na esfera “ocupacional”. Mulheres
Negras que são trabalhadoras domésticas são as mais suscetíveis à
violência doméstica.
Esse dado precisa ser considerado e analisado minuciosamente, pois
revela as raízes de uma sociedade que se forja a partir da dicotomia
Casa Grande /Senzala.
Outro viés a ser discutido é a violência doméstica e familiar, aquela
que acontece e que se dá no âmbito das relações pessoais e
matrimoniais, pois sabemos que mulheres, independente de cor/raça ou
classe social, passam por tal situação, e que o aparelho do Estado e as
políticas públicas, leia-se aqui a Lei Maria da Penha, tem servido como
um esforço conjunto para que a problemática seja reprimida.
Mas precisamos perceber que a eficácia da Lei Maria da Penha e dos
diversos núcleos de repressão de combate à violência contra Mulher só
será mais eficaz a partir do momento que começarmos em conjunto a
alvitrar e discutir as especificidades da realidade e levar em
consideração que a maior parte das agredidas e violentadas é formada por
Mulheres Negras e da Classe Popular. A partir desse olhar específico e
político vamos lutar com maior eficácia contra o Sexismo e o Machismo
que impera dentro de nós e na Sociedade civil Organizada.
Vitor Costa, diretor Secretário de Políticas Raciais e Relações Interétnicas do Sintepav BA e da Força Sindical BA
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