Aquilo que você não sabia sobre Karl Marx



"Árabes, Turcos, Tártaros, Mongóis, que sucessivamente invadiram a Índia, cedo ficaram indianizados, uma vez que, segundo uma lei eterna da história, os conquistadores bárbaros são eles próprios conquistados pela superior civilização dos seus súditos. Os Britânicos foram os primeiros conquistadores superiores e, por conseguinte, inacessíveis à civilização hindu. Destruíram-na, rebentando com as comunidades nativas, arrancando pela raiz a indústria nativa e nivelando tudo o que era grande e elevado na sociedade nativa. As páginas históricas da sua dominação na Índia quase não relatam mais nada para além essa destruição. A obra de regeneração mal transparece através de um montão de ruínas. Apensar disso ela começou. "(MARX, 1982: pág. 520);

"Assim pois, a Índia não podia deixar de escapar ao seu destino de ser conquistada e toda história passada, supondo que tenha existido tal história, é a sucessão das conquistas sofridas por ela. A sociedade hindu carece por completo de história, ou pelo menos de história conhecida. O que chamam de história da Índia não é mais que a história dos sucessivos invasores que fundaram seus impérios sobre a base passiva desta sociedade imutável que não lhes oferecia nenhuma resistência. Não se trata, portanto de se a Inglaterra tinha ou não direito de conquistar a Índia, senão de se preferimos uma Índia conquistada pelos turcos, pelos persas, ou pelos russos a uma Índia conquistada pelos britânicos." (pág. 506-507)
“Não podemos esquecer que estas idílicas comunidades aldeãs, por muito inofensivas que possam parecer, foram sempre o sólido alicerce do despotismo oriental, confinara o espírito humano ao quadro mais estreito possível, fazendo dele o instrumento dócil da superstição, escravizando-o sob o peso de regras tradicionais, privando-o de toda a energia histórica. [ ...] Quaisquer que possam ter sido os crimes da Inglaterra, ela foi o instrumento inconsciente da história ao provocar essa revolução.” (MARX, 1982, pág. 517-518).


Fontes, respectivamente: MARX, Karl. “Resultados futuros da dominação britânica na Índia”/ “A dominação britânica na Índia”. . In: MARX & ENGELS. Obras escolhidas. Tomo I. Lisboa, Edições Avante! / Moscou, Edições Progresso, 1982.


Em defesa de Cuba e à memória de Paul Lafargue

A 13 de Agosto de 1866, Karl Marx escreveu a seguinte carta ao noivo de sua filha Laura, um cubano chamado Paul Lafargue:



“Você permitir-me-á fazer-lhe as seguintes observações:
1º Se quer continuar as suas relações com minha filha terá que reconsiderar o seu modo de «fazer a corte». Sabem bem que não há compromisso definitivo, que tudo é provisório; mas mesmo que ela fosse sua prometida em devida forma, não deveria esquecer-se que se trata de um assunto a longo prazo. Por isso, a intimidade excessiva está completamente deslocada, tendo-se em conta que os noivos terão de habitar a mesma cidade por um período necessariamente prolongado de purgatório e rudes provas (...). A meu juízo, o amor verdadeiro manifesta-se na reserva, na modéstia e, inclusivamente, na timidez do amante perante o seu ídolo, não na liberdade da paixão e nas manifestações de uma familiaridade precoce. Se você defende o seu temperamento crioulo, é meu dever interpor a minha razão entre esse temperamento e a minha filha (...).
2.º Antes de estabelecer definitivamente suas relações com Laura necessito de sérias explicações sobre a sua situação económica.
A minha filha supõe que estou ao corrente dos seus assuntos. Está enganada. Não coloquei ainda este assunto na mesa porque, a meu ver, essa iniciativa deveria ter sido tomada por si. Você sabe bem que sacrifiquei toda a minha fortuna nas lutas revolucionárias. Não me arrependo nada disso. Se tivesse que recomeçar a minha vida faria o mesmo (...). Porém, em tudo o que esteja nas minhas mãos, quero livrar a minha filha dos escolhos com que se defrontou a sua mãe” .

Além do seu “temperamento crioulo”, Marx reprova também ao seu futuro genro uma certa tendência para a preguiça: “a observação demonstrou-me que você não é trabalhador por natureza, apesar de toda a sua boa vontade e dos seus acessos de actividade febril”.


O autor do ‘Manifesto Comunista’ não podia por então suspeitar a extraordinária relevância que iria ter para o destino do socialismo o assunto que acabava de mencionar: a preguiça.

Fonte: O comuneiro

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