Por: Taís do Espírito Santo
Estava eu voltando do trabalho, quando parei em um
restaurante e lá estavam três crianças (meninas) e um rapaz bem mais velho, que
parecia ao menos ser pai de uma delas. Percebi que ao notar a minha presença as
meninas , no primeiro momento, me olharam assustadas e logo depois começaram a
rir muito, olhando para mim, não conseguiam conter o espanto de ver uma pessoa
negra, com cabelos crespos, e com roupas coloridas, enfim, estava totalmente
diferente daquilo que é imposto na sociedade. Ouvi palavras como: feia, cabelo
ruim, estranha, beição, e outras várias coisas. E elas estavam tão eufóricas,
tão animadas em rir de mim que puxavam o rapaz para que ele pudesse ver. Ele
disfarçou, me olhou, deu aquela risadinha de canto de boca mas quando percebeu
que eu também estava o olhando, disse às meninas: “riem baixo”. E para complementar
havia um quadro grande com figuras de três negras (as “mulatas”) sambando,
todas de cabelo black, com roupas coloridas, quando elas olharam e identificaram
comigo, foi um alvoroço geral, riram mais alto, apontavam para mim e o quadro.
Eu só fiquei observando. O mais triste, diante desta situação toda, não é fato de estarem rindo de mim, do meu cabelo,
do meu estilo, o pior é que as meninas também eram negras, só que os cabelos alisados, enfim, passaram
por todo o processo de embranquecimento e não mais se conheciam, não viam que
eu era elas e elas também eram eu. Agradeci aos céus por terem me dado pais tão
conscientes, tão educadores, tão sabidos do nosso valor, que me mostraram quem em sou, porque eu sou
desse jeitinho, de onde eu vim...
Ah,e para finalizar este enredo, não pude ficar quieta diante
essa situação. Fui ao encontro do pai,
serena, tranquila, e disse à ele que eu
era igual a elas, a única diferença é que eu tinha me achado. E ele como pai
tinha que educá-las pois senão o mundo, mesmo elas alisando o cabelo, tentando
ser brancas de qualquer jeito, iria continuar rindo delas e elas sofrerem ainda
mais com isso, pois não se achariam, ficariam perdidas. Ele me olhou, pediu desculpas e eu fui embora.

Diante deste relato, desta história corriqueira, saiu uma
conclusão, uma triste realidade:
Precisamos resgatar as nossas crianças! Precisamos mostrar à elas que o
negro é lindo, que também pode e deve
estudar, ser alguém na vida, podemos usar roupas coloridas, sermos felizes,
sermos doutores, médicos, enfermeiros, professores, ter a opção de não alisar o
cabelo e continuarmos lindos lindos lindos. É preciso tratar a autoconfiança, o
reconhecimento da nossa história. Até quando nossas crianças negras ficarão à
mercê desse processo, desse racismo velado, dessa construção equivocada da
nossa história? Até quando iremos rir de nós mesmos? Até quando alisaremos a
nossa raiz?
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