Sete práticas nocivas que a grande mídia apresenta ao falar sobre raça.
Tradução: Mpenzi Rocha, para +Preta Gorda
1- Individualizar
o Racismo.
Isso
reforça o equívoco comum de que o racismo é simplesmente um problema pessoal
que deve ser resolvido por vergonha, punindo ou reeducando o ofensor individual. Essa
crença muitas vezes leva a longos debates inconclusivos sobre o que está no
"coração" do ofensor, e se tinha ou não a intenção de ser ofensivo ou
discriminatório, e perpetua falsas noções de agência individual em nossa consciência
nacional.
Talvez
a característica mais comum de tratamento da mídia de histórias sobre raça e
racismo é a parcela desproporcional de atenção que os episódios de nível
individual de racismo recebem, ignorando uma análise mais profunda da injustiça
racial sistêmica.
Enquanto
a taxa de infrações pode variar muito, dependendo do assunto e da atenção dada
pela mídia, tais desequilíbrios reforçam para os leitores a mensagem errada de
que o racismo é essencialmente um fenômeno ostensivo de atos intencionais
realizadas por pessoas preconceituosas. Transgressões raciais, como
o da Paula Deen, normalmente são apresentadas como defeitos simples e
individuais que precisam ser corrigidos ou motivos de vergonha.
2- Falsamente
igualando atos incomparáveis.
Traçando
um paralelo entre um ato ou expressão de preconceito racial de privilegiados brancos
e de comparativamente desfavorecidos pessoas de cor, sem levar em conta as
diferenças de poder entre os dois.
Isto
fornece um pretexto para quem pretende absolver um indivíduo que tem expressado
uma ideia racista ou cometeu um ato racista. Ela incentiva o público a
aplicar um critério de cobertura “daltônica” sem reconhecer que os preconceitos
dos brancos têm um impacto mais amplo e são reforçados por instituições e
sistemas de poder de uma forma que os preconceitos das pessoas das comunidades negras
não tem.
3- Divergindo
da Raça.
A
prática de afirmar que outras identidades sociais, além da racial, como classe,
gênero ou orientação sexual, são os fatores determinantes reais por trás de uma
determinada desigualdade social. Esta lógica inibe a compreensão da interseccionalidade,
promovendo uma em vez de ambas identidades enquadradas que é mais sociológica e
historicamente precisa do que uma única identidade ou a análise não-racial.
O
fato de que o público americano confortavelmente reconhece as desigualdades
econômicas e ainda se opõem à ideia que a cor da pele vem a frente, destaca um
sintoma de toda a sociedade de negação do racismo sistêmico. A natureza
contraditória dessa negação, por exemplo, é visível na disparidade entre o
tratamento do público sobre ações afirmativas e uma completa falta de discurso
nacional em torno de admissões de legado¹, um processo que beneficia
desproporcionalmente pessoas de brancas de classe alta.
4- Retratando
esforços do governo para igualdade racial como excessivos.
Representando
os esforços do governo para promover a igualdade racial e inclusão como
equivocada, desnecessária e/ou inadequada.
Enfraquece
o apoio ao governo no seu papel significativo no desmantelamento do racismo
sistêmico. Sugerem que o governo não está cumprindo seu real papel (ou seja,
devia parar de infringir a liberdade individual branca) e assim
poderíamos ter um país "daltônico" uma vez por todas.
Ao
questionar as decisões do próprio governo para agir em favor da igualdade
racial, esta prática discursiva serve para manter as estruturas que perpetuam o
racismo sistêmico, tudo em nome da liberdade individual para os brancos sobre
uma sociedade justa para as pessoas negras.
5- Destacando
a intenção em relação ao impacto real no que diz respeito à Política.
Centrando-se
mais sobre a intenção de uma política ou prática e muito menos sobre o impacto
diário sobre as pessoas e comunidades negras.
Desvaloriza
mais ainda os valores humanos e da própria vida de pessoas e comunidades negras
que carregam o peso de implementação de uma política. Obscurece o papel do
viés implícito na operação dessa política, e reforça o poder do medo branco na
política e na tomada de decisões.
A
grande mídia e os funcionários públicos, por vezes, optam por cobrir histórias
através da prática do discurso que sobre a intenção de impacto. Esta é a
prática de se concentrar mais na intenção de uma política ou prática e muito
menos sobre o impacto diário sobre as pessoas e comunidades negras, que é
absolutamente tudo. Para stop-and-frisk³, a intenção política é a
segurança pública, mantendo crime baixo e mantendo as armas fora das ruas, que
é onde o discurso racial dominante permaneceu, quando os representantes da mídia
deixam de reconhecer o dano de políticas racialmente enviesadas em comunidades
marginalizadas que auxiliam na proteção continuada dessas políticas dentro da
consciência nacional e, portanto, a esfera pública de influência.
6- Usando
linguagem codificada.
Substituindo
a identidade racial com termos aparentemente neutras que disfarçam animosidade racial explícita e /ou implicitamente.
Injeta
linguagem que aciona estereótipos raciais e outras associações negativas sem o
estigma do racismo explícito. Promove ansiedade e desumaniza os negros.
A
grande mídia pode evocar uma imagem de um grupo de jovens negros simplesmente
utilizando palavras como bandidos, meliantes ou cracudos². . Nestes casos,
as palavras são aparentemente termos racialmente neutros, em vez dos
identificadores explicitamente raciais. Para muitos, a palavra "cracudo"
evoca a imagem de um grupo de jovens corpos preto e marrom.
Quando
essa prática é utilizada, as noções que as pessoas e as comunidades negras são
inerentemente criminosas e desumanas são propagadas. As noções de supremacia da
humanidade branca são feitas concretamente. Consequentemente, o racismo
sistêmico torna-se irrelevante em um discurso nacional que estridentemente é
racista em sub texto, mesmo sem mencionar explicitamente a raça.
7- Silenciando
a história.
Isola,
em vez de ligar as presentes disparidades raciais, as oportunidades e as
atitudes de seu contexto histórico. Resultando em entendimentos
incompletos ou imprecisos das causas dessas disparidades, oportunidades e
atitudes. Obscurece o caminho para iluminar o que as soluções são
mais viáveis ou justificáveis. Deseducam o público.
Se
não podemos olhar para nós mesmos como uma nação, tanto no passado e no
presente, e as formas em que os nossos valores "brasileiros" têm
muitas vezes caído em contradição com nossas ações, nunca seremos capazes de
avançar quadros e narrativas que levam a justiça racial e uma
compreensão humana ou no funcionamento dos nossos sistemas
sociais. Precisamos ser capazes de considerar as ferramentas
de comunicação que nos permitem ver a nós mesmos como agentes ativos nos
sistemas com os quais interagimos. Se não reconhecermos as vias de tomada
de decisão e representantes da mídia que reformulam sistematicamente a nossa
história, vamos continuar a funcionar sem um espelho da sociedade e a consequência
potencial é que o nosso diálogo em torno destas questões permanecerá estagnada.
1
- É um tipo de preferência dada por uma instituição ou organização a certos
candidatos, com base em sua relação familiar com ex-alunos da mesma.
2-
Palavras utilizadas para aproximação das realidades psicológica e imaginária
brasileiras.
3-
É uma prática do Departamento
de Polícia de Nova York pelo qual os policiais param e
questionam centenas de milhares de pedestres por ano e os revista em busca de
armas e outros contrabandos. As regras para parar, revistar e pergunta se
encontram no Direito Penal Processual do Estado de Nova Iorque, seção 140,50. Das
684.000 pessoas que foram paradas em 2011, a grande maioria delas eram negras
e latinas.
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