A imagem afro-americana nas comunicação e marcas comerciais
Por: Karen Juanita Carrillo
Sou um homem invisível.
Não, eu não sou um fantasma como os perseguidos por Allan Poe (…)Sou um homem de substância, de carne e osso, de fibra e líquidos (…)Quando se aproximam, só vêem o que me rodeiaA eles mesmos ou invencionices de sua imaginaçãoToda e qualquer coisa, exceto a mimRalph Elisson, Homem invisível, 1.952.
A pesar das
particularidades do escravismo nos Estados Unidos, em comparação com a América
Latina, as similaridades e semelhanças em torno das representações visuais dos
afro-descendentes, são enormes.
Nos Estados Unidos depois da
Guerra Civil e ao chamado período de Reconstrução, se criaram leis que contribuíram
para a inserção social dos afrodescendentes recém-emancipados, nas mesmas
regiões onde haviam sido escravizados. Esta etapa que chegou até 1.876, não
teve êxito completo em todos os seus objetivos, sendo um importante ganho o
estabelecimento das Universidades Historicamente Negras (HBCU).
Para destruir a idéia de
Reconstrução, os perdedores da guerra civil instituíram leis denominadas
“Jim Crow” que foram leis nacionais e locais, entre 1.876 e 1.965, as quais
continham restrições aos afro-descendentes segregando-os de sua origem racial.
Quase esquecidos da vida
civil, a idéia de comunidade afrodescendentes começa a ser algo irreal, quer
dizer, uma caricatura. Os fotógrafos e pintores que controlavam a imprensa
criaram imagens dos afro-descendentes como atrasados e culturalmente
fracassados.
Os meninos eram chamados
“Pickaninnies”. A imagem do “Little Black Sambo”, o Negrito Sambo, é um
exemplo. Publicada em 1.899 pela escocesa, Helen Bannermann, relata como um
menino se encontra com quatro tigres que tinham fome.
Sambo apesar de enganar os
tigres e salvar sua vida, é estúpido e sorri sem razão. A imagem começa a ser
associada com qualquer homem afro-americano.
Na América Latina este
personagem pode ser associado à caricatura mexicana “Memin Pinguin”, e no caso
do Peru, ao menos na base estética da pintura, com a caricatura “Os Achoraos”.
Quer dizer: este tipo de
representação responde a um estilo de desenho que pinta com a cor negra a pele
africana, destacando a boca com cores vermelhas, rosadas e brancas, gerando uma
imagem graciosa a partir do destaque aos traços fenotípicos africanos
considerados pela sociedade branca e mestiça como antiestéticos.
A mulher afro-americana é
representada como a “Mammy”, personagem pouco inteligente e gorda. Marcas como
“Cream of Weath” e “Aunt Jemina” (panquecas e melado) utilizam estas imagens
estereotipadas. A obra “Uncle Remus” (Tio Remus) escrita por Joel Chandler
Harris, em 1.880, inspira a sociedade norte-americana a crer no personagem “Uncle
Remus” (Tio Remus).
Assim, se desenha os homens
afro-americanos como sempre felizes, com ares estúpidos e sem preocupações.
Esta imagem também se converteu em um personagem familiar nos espetáculos dos
“minstrels” (caras pretas, homens brancos com cara pintada de negro que faziam
shows cômicos reproduzindo preconceitos racistas).
A marca de cereais “Cream of
Wheat” usou um “Remus” como imagem, nos anos vinte, pagou cinco dólares a um
chef afro em Chicago chamado Frank White, que posou com um chapéu de cozinheiro
e uma jaqueta. Esta imagem é a que aparece até hoje na dita marca de cereais.
A primeira mulher modelo afro
da marca “Aunt Jemima” (Tia Jemima) era Nancy Green, que nasceu na escravidão
em 1.834 e foi contratada quando vivia em Chicago, Illinois. Com os protestos
ocorridos na sociedade norte-americana devido ao evidente racismo, a imagem
posteriormente foi utilizada mudando-se o estilo do pano, tornando-se mais
delgada e finalmente descobrindo-se-lhe totalmente o cabelo, criando-se a
imagem de uma mulher afro mais moderna.
As representações segundo o
estilo original de “Tia Jemima” são comuns na América Latina. Ao usar o pano
atado dessa maneira, lembra o estilo da escravidão. Destaca-se o fato de ter
cores berrantes, preferencialmente vermelhas – com bolas e desenhos. Isto
reforça a imagem das mulheres afros como cozinheiras, lembrando-lhes a imagem
de escravizadas, remetendo às atividades que exercem – segundo estas imagens –
de maneira feliz e com posturas servis. A imagem de “Tia Jemima” tem paralelos
no Peru com os produtos “Negrita” e “Doña Pepa”.
Assim como descrito
anteriormente, existiram muitas outras falsas imagens de afro-americanos em que
são mostrados como desumanos, merecedores do desprezo e feitos para serem
servis. Isto aparecia em anúncios de jornais, revistas e no cinema e na
televisão para vender mercadorias que não eram usadas pelo público
afro-descendente. Porém, sempre se associava a imagem afro com a produção de
mercadorias e com a idéia de que existiam para servir. Por isso, os vendedores
de móveis, fertilizantes, cigarros, café da manhã, comida, tabaco, tinta e
lavadoras eram representadas com imagens afros.
G/N: Gostei dessa imagem de "Tia Jemima", com um rifle na mão. Reflete a nossa condição de negação dessa imagem subserviente que o racismo tenta nos colocar rotineiramente.
Com isso os meios de
comunicação e as marcas comerciais, perpetuaram uma compreensão particular da
negritude nos Estados Unidos. Estas representações influíram para conservar a
idéia de que a comunidade afro era disfuncional, subalterna, e até hoje
repercute para os afro-americanos nas possibilidades de encontrarem melhores
oportunidades de trabalho, de obterem melhores moradias e de inserção em um
sistema educacional de qualidade.
Quem é
Karen Juanita Carrillo é do
Brooklyn, em Nova York. É escritora e fotógrafa, especializada em cobertura da
história, literatura e política afro-americana e afro-latina. É co-fundadora do
site www.afropresencia.com. É autora dos livros:
v African American History Day by
Day: A Reference Guide to Events (Historia afroamericana dia a dia:
una guia de referencia para eventos) ABC-CLIO/Greenwood Press, June 2012; ISBN:
978-1-59884-360-6,
v Bibliography
Of Life In The Black Americas (Bibliografía de la vida
Afrodescendiente en las Américas) Dec 31, 2012; ASIN: B00AVE92J0, y
v The View
from Chocó: The Afro-Colombian Past, Their Lives in the Present, and Their
Hopes for the Future (La vista desde el Chocó: el pasado de
afrocolombianos, sus vidas en el presente y sus esperanzas para el futuro) May
21, 2010; ISBN: 1451565275 / 1-4515-6527-5.
Tradução do Espanhol para o Português: Dojival
Vieira
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