Sobrevivendo num país genocida.
Por: Preta&Gorda
Viver aqui no Brasil anda complicado em
demasia, principalmente em se tratando de segurança pública. Não, o texto não é
voltado aos comumentes discursos da sociedade mediante ao suposto caos que
estamos vivendo especificamente no Rio de Janeiro.
Falo aqui, na qualidade de mulher preta,
preocupada com o destino de meninos e homens pretos, cidadãos e moradores deste
país, cuja vida está à mercê da vontade e criatividade de julgamento da
sociedade branca racista e de todos os que servem a ela.
Falo do Rio de Janeiro, porque é o Estado
onde moro, e onde no dia 28 último ocorreu mais um genocídio do meu povo num
bairro da Zona Norte. Cinco crianças foram brutalmente assassinadas dentro de
um Palio, no qual Policiais Militares dispararam 111 tiros, porque pensaram ser
um grupo de assaltantes que supostamente estavam fugindo depois de roubar uma
carga, a qual um destes mesmos policiais era responsável.
No meu lugar, de indivíduo preto, posto que
desde assinatura da abolição da escravatura, nunca houve em momento algum da
história do meu povo, alguma Lei que nos colocasse em situação de tranquilidade
e conforto. Muito pelo contrário. A ação deliberativa das Leis deste país,
somente favoreciam os brancos, pois eles tinham medo de uma iminente revolta e
consequentemente a morte de todos eles por todos os males causados a nós
durante a escravidão. Os pretos e pretas que circulavam por ali, mesmo
“libertos” podiam ser mortos a qualquer momento sem nenhuma penalidade a quem
matasse, e sem também nenhum poder reivindicativo da família caso quisesse ou
achasse por direito.
E assim, desde sempre vem sendo a luta
cotidiana do indivíduo preto em busca de sobrevivência. Sobrevivência... Fomos
tirados de nossa terra pra viver nas terras que não queríamos e ainda temos de
lutar para permanecermos vivos.
Cinco vidas ceifadas pelo racismo, cinco histórias inacabadas, cinco sonhos, cinco expectativas, cinco famílias dilaceradas pelo ódio racial, pela intolerância do racista em se ter pretos dirigindo um veículo... baseando-se em estereótipos criados por brancos estipulando as características físicas do ‘marginal’.
Cinco vidas ceifadas pelo racismo, cinco histórias inacabadas, cinco sonhos, cinco expectativas, cinco famílias dilaceradas pelo ódio racial, pela intolerância do racista em se ter pretos dirigindo um veículo... baseando-se em estereótipos criados por brancos estipulando as características físicas do ‘marginal’.
E a sociedade racista, questionando se os
meninos tinham passagem pela policia.
Em que se ter passagem pela polícia desabona
um assassinato?
Se os meninos tivessem passagem, então estava
‘super de boas’ serem assassinados?
Certamente esse questionamento apenas
fortifica o motivo pelo qual milhares de homens pretos estão na cadeia sem
julgamento prévio... Isso sem falar dos ‘desaparecidos’. E o nosso Governador
ainda diz que não houve racismo só fecha o quadro de pérolas cariocas. Pasmem.
Fico triste em saber que a morte do meu povo
causa menos comoção ao coração brasileiro do que mortos franceses num bar.
Impossível ler as notícias, olhar as fotos, ver as famílias e não se entristecer. Não fazer uma profunda reflexão do que tem sido a nossa vivência aqui na Terra, de quantas situações de medo e insegurança passamos e de quantas vidas foram ceifadas em meio a toda violência a qual estamos submetidos/as. A frase parece que vira um bordão, mas é o que realmente descreve a nossa real condição: "podia ter sido qualquer um de nós"... ou nossos filhos, primos, tios, avôs, pais... Espero aqui, sinceramente, que as irmãs pretas se conscientizem de que o que se chama de solidão da mulher negra, não deve ser e nem se resumir em achincalhamentos públicos ou via redes sociais dos nossos homens pretos, sobre interracialidade. Que se entenda que a interracialidade é apenas uma consequência de tantas doenças que destinaram a nós quanto comunidade e que precisa ser cuidada e curada em comunidade. A realidade é que estamos perdendo nossos homens porque eles estão morrendo mesmo... Cada vez mais.
Que a gente aprenda a lutar junto de uma vez por todas.
Estamos por nossa própria conta, moçada.
Um abraço carinhoso às famílias pretas.
Um abraço carinhoso às famílias pretas que
perderam seus filhos, seus homens, suas mulheres.
Um abraço carinhoso às famílias pretas que
caminham continuamente nessa loucura quem tem sido nossa vida, em busca de
felicidade.
Um abraço carinhoso às mamães e papais e
futuras mamães e papais pretas e pretos.
Beijos.
Resistência.
4P.
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